O terrorismo de grupos radicais
- Maura Palumbo
- 25 de ago. de 2024
- 9 min de leitura
O terrorismo se configurou não apenas como um fenômeno de violência e intimidação, mas também como uma atividade extremamente lucrativa para diversos grupos radicais. O financiamento do terrorismo se dá através de uma série de atividades ilegais, que vão desde o tráfico de drogas e contrabando de armas até sequestros, extorsões e fraudes. Além disso, há empresas e países que contribuem de forma caritativa, o que torna ainda mais complexa a rede de financiamento.
As transações financeiras frequentemente ocorrem em pequenas quantidades, desviando-se por diferentes contas bancárias localizadas em paraísos fiscais, com o intuito de dificultar o trabalho das autoridades e proteger a identidade dos patrocinadores e beneficiários. A lavagem de dinheiro precisa ser discreta para não gerar suspeitas.
Jihad: Justificativa Ideológica

A justificação para a ação terrorista muitas vezes reside na noção de jihad, que é uma luta armada contra aqueles que se declaram inimigos do Islã, interpretada como uma guerra santa muçulmana.
O jihad é um dever ou obrigação dos mulçumanos que consiste em defender o Islã através da luta, geralmente, armada. Este conceito é frequentemente utilizado por extremistas islâmicos, que se opõem à paz e promovem a ideia de combate aos "infiéis" e inimigos do Islã.

Revolução Iraniana de 1979, pró Aiatolá Khomeini
A partir da Revolução Iraniana de 1979, ocorreu uma transformação política e social que derrubou a monarquia do Xá Reza Pahlevi e instaurou uma República Islâmica teocrática, liderada pelo aiatolá Khomeini. Foi uma difusão significativa do fundamentalismo, especialmente entre os povos do Oriente Médio.
A partir da década de 80 surgiram movimentos armados que buscavam incessantemente a destruição de Israel e a fundação de um Estado Islâmico palestino.
Os principais grupos são:
Hamas: Movimento de Resistência Islâmica

Grupo Hamas em Gaza
O Hamas, ou Movimento de Resistência Islâmica, foi criado em 1987 durante a Primeira Intifada, um período de rebelião popular palestina contra as forças de ocupação israelense na Faixa de Gaza e Cisjordânia. O grupo, que surgiu a partir da Irmandade Muçulmana, inicialmente se dedicava ao trabalho de assistência social na Palestina, mas rapidamente se transformou em um movimento armado nacionalista e fundamentalista. O Hamas venceu as eleições em 2006, derrotando seu rival Fatah, e em 2007, com a expulsão deste último da Faixa de Gaza, o grupo se tornou o maior opositor à existência de Israel.
A Faixa de Gaza, onde o Hamas exerce forte influência, é uma das áreas com maior densidade demográfica do mundo, abrigando cerca de 2,5 milhões de habitantes, muitos vivendo em condições de pobreza extrema, predominantemente de ascendência árabe e fé muçulmana. Os principais financiadores do Hamas incluem Irã, Catar, Líbia, Líbano, Arábia Saudita, Iraque e Venezuela, com um volume anual de negócios estimado em um bilhão de dólares. Curiosamente, muitos líderes do Hamas não residem na Faixa de Gaza.
Fatah: Movimento de Libertação Nacional da Palestina

O Fatah, fundado no Kuwait em 1959, é rival do Hamas e é considerado o maior partido político palestino, atuando principalmente na Cisjordânia com uma ideologia nacionalista e laica. É um dos principais grupos da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), tendo como figura proeminente Yasser Arafat. Após a vitória do Hamas em 2007, o Fatah foi expulso de Gaza, todavia continua a ser um ator relevante no cenário político palestino.
Irmandade Muçulmana

Fundada em 1928, a Irmandade Muçulmana é uma organização islâmica radical sunita que se propõe a “retomar” os ensinamentos do Alcorão, rejeitando qualquer tipo de influência ocidental. Esta organização é responsável pela fundamentação ideológica de vários grupos terroristas, como o Hamas e a Al-Qaeda. Um dos traços característicos da Irmandade é a defesa da sharia, ou lei islâmica, e uma interpretação extremista da jihad, com um foco no pan-Islâmismo, ou seja, a "guerra santa" contra qualquer comportamento que não respeite a tradição islâmica e os preceitos do Alcorão.
Essa organização islâmica radical busca a implementação da sharia em todos os países muçulmanos e a criação de um califado global.
Hezbollah: Um estado dentro do Estado

O Hezbollah, também conhecido como "Partido de Deus", é um grupo extremista xiita que surgiu no Líbano em 1982, inicialmente como uma milícia durante a guerra civil libanesa. Com uma forte oposição a Israel e ao envolvimento ocidental no Oriente Médio, o Hezbollah, que possui um braço militar significativo, é considerado um "estado dentro do estado" e conta com apoio financeiro de países como Síria e Irã. A conexão entre o PCC (Primeiro Comando da Capital) no Brasil e o Hezbollah tem sido clara, especialmente desde 2006, com o treinamento armado e financiamento de atividades terroristas.
O grupo xiita libanês, Hezbollah, é financiado pelo Irã e atua contra Israel e os interesses ocidentais na região.
Al-Qaeda

Grupo terrorista Al-Qaeda
A Al-Qaeda, fundada na década de 1980, recebeu apoio dos Estados Unidos no combate à invasão soviética do Afeganistão. O apoio envolveu financiamento, armas e inteligência militar. Curiosamente, o ataque de 11 de setembro de 2001 pelo grupo, foi planejado com táticas aprendidas durante esse período. Com a invasão do Iraque no Kuwait em 1990, seu fundador e líder, Osama Bin Laden, declarou guerra aos Estados Unidos através de uma fatwa, pronunciamento legal islâmico, intensificando os ataques contra o país.
Depois da morte de Bin Laden, um dos maiores financiadores do grupo, as agências de inteligência do mundo todo ainda não conseguiram compreender as estruturas de financiamento da Al-Qaeda. Mas, acredita-se que seja arrecadando dinheiro de doadores, mesquitas e organizações “simpáticas” à causa.
A Al-Qaeda, que tinha bases no Afeganistão sob proteção talibã, buscava a criação de um califado islâmico global.
Talibã

Grupo Talibã
O Talibã, surgido no Afeganistão em 1994, promove uma versão radical da sharia e se opõe à influência ocidental, resultando em uma severa repressão a direitos humanos, incluindo a proibição de escolas para meninas e a obrigatoriedade do uso da burca.
O Talibã foi derrubado pelo exército dos Estados Unidos em 2001 após os atentados do 11 de setembro. O Afeganistão era a casa de Osama Bin Laden que vivia sob a proteção do Talibã. Em 2021, o exército norte americano deixou o país e o grupo radical voltou a assumir o governo.

Mulheres talibãs
Em 22 de agosto de 2024, o Talibã anunciou a implementação de uma nova lei destinada a promover a virtude e combater o vício, em alinhamento com a sharia, a lei islâmica.
Essa legislação, divulgada pelo Ministério da Justiça do Talibã, mantém e intensifica restrições já conhecidas no país. As principais incluem a obrigatoriedade de as mulheres cobrirem completamente o corpo e também seus rostos com uma máscara, na presença de homens que não sejam familiares. Ao saírem de casa por necessidade, as mulheres não podem ter suas vozes ouvidas em público (canções, poesia).
A lei também impõe restrições para motoristas, das mais simples como o de ouvir música em seus veículos, até as mais radicais como não poder transportar mulheres sozinhas, nem homens e mulheres que não sejam parentes entre si. Também obriga tanto passageiros quanto motoristas a realizar orações em horários específicos.
Homens devem manter a barba em um comprimento que não seja muito curto. Além disso, a amizade com pessoas não muçulmanas é proibida, e a prática das cinco orações diárias é obrigatória.
Outras restrições, já existentes, foram agravadas como o adultério, homossexualidade, jogos de azar, brigas de animais e a criação ou visualização de imagens de seres vivos em dispositivos eletrônicos. As sanções para desobediência são graduais, começando com advertências e multas, podendo levar a prisão preventiva de até três dias. Em casos de reincidência, os casos serão submetidos à justiça.
A sharia também é aplicada em países como Irã, Maldivas, Indonésia, Catar, Iraque, Arábia Saudita e Sudão, entre outros.
Boko Haram: Radicalismo e Violência na África

Grupo Boko Haram na Nigéria
Boko Haram é uma organização terrorista sunita que surgiu em 2002 na Nigéria, com o objetivo de erradicar a ocidentalização, atacando igrejas, escolas e estabelecimentos. Busca a criação de um Estado islâmico na Nigéria e ataca civis, principalmente cristãos.
Atuando também em países como Chade, Níger e Camarões, o grupo impôs uma forma de califado, realizando ações violentas sistêmicas. Estima-se que pelo menos dez mil mulheres tenham sido sequestradas e vendidas como escravas sexuais ou envolvidas em ataques suicidas. O combate a essa organização tem recebido financiamento dos Estados Unidos.
Estado Islâmico (ISIS): A Nova Face do Terrorismo

Grupo ISIS
O Estado Islâmico, ou ISIS, é um grupo radical sunita e wahabita que surgiu em 2014 como uma derivação da Al-Qaeda. Após a queda de Saddam Hussein, no Iraque, o grupo lançou ataques violentos contra a população xiita e se aproveitou da instabilidade na Síria. Impôs terrorismo por meio de massacres de minorias religiosas e étnicas, incluindo cristãos e xiitas, e o grupo está relacionado a uma série de ataques terroristas na Europa e em outras partes do mundo.
O Estado Islâmico possui um sistema de cobrança de impostos em áreas conquistadas e desenvolveu atividades ilegais, como roubo de reservas de bancos, contrabando de carros e armas, sequestros e venda de antiguidades roubadas. Embora seu orçamento tenha sofrido um empobrecimento, estima-se que ainda supere dois bilhões de dólares, principalmente gerados pela venda de petróleo.
O ISIS, um grupo extremista sunita, controlou vastas áreas do Iraque e da Síria, onde impôs uma brutal interpretação da sharia.
Fontes de Financiamento do Terrorismo

Os grupos terroristas estabelecem redes complexas que envolvem conexões, ideologias, financiamento e violência, facilitando a troca de informações, recursos e combatentes. O financiamento dessas organizações provem de diversas fontes, incluindo países, organizações criminosas, atividades ilícitas e até doações de entidades e governos. Entre as principais fontes de financiamento, destacam-se:
Crimes organizados: Tráfico de drogas, armas e bens, sequestros, extorsão e fraudes são atividades comuns para gerar lucros e financiar operações terroristas.
Doações e contribuições: Empresas, países e indivíduos podem fornecer doações, muitas vezes disfarçadas de atividades caritativas, para apoiar causas extremistas.
Lavagem de dinheiro: A complexa rede financeira global permite que os terroristas lavrem grandes quantias de dinheiro, dificultando o rastreamento de suas atividades.
Exploração de recursos naturais: Em regiões com abundância de recursos naturais, como petróleo, os grupos terroristas podem se beneficiar da exploração ilegal dessas riquezas.
Curiosidades

Redes Sociais e financiamento: Os grupos terroristas, incluindo o Estado Islâmico, têm utilizado as redes sociais não apenas para propaganda, mas também para arrecadar fundos. Através de campanhas em plataformas digitais, eles têm conseguido angariar doações de simpatizantes ao redor do mundo.
Criptomoedas: O uso de criptomoedas por grupos radicais tem aumentado devido ao seu caráter descentralizado e à possibilidade de transações anônimas. Isso torna mais difícil o rastreamento por parte das autoridades financeiras internacionais.
Impacto econômico: Estima-se que o custo global do terrorismo para a economia mundial alcance trilhões de dólares, afetando não só os países diretamente envolvidos em conflitos, mas também impactando regiões vizinhas e o comércio internacional.
Uso de propaganda: A propaganda terrorista evoluiu com a tecnologia. Documentários, vídeos de treinamento e transmissões ao vivo de ataques são utilizados como parte da estratégia para recrutamento. O uso de plataformas como o Telegram se tornou comum para a comunicação segura entre os membros.
O papel das mulheres: As mulheres têm desempenhado papéis variados dentro dos grupos terroristas, desde combatentes até protagonistas em ações terroristas. O ISIS, por exemplo, tem recrutado mulheres com promessas de poder e status, além de envolvê-las na administração de áreas sob seu controle.
Deslocamento forçado: Os conflitos armados frequentemente resultam em deslocamento forçado de populações, que, em muitos casos, se tornam vulneráveis à radicalização. As Nações Unidas estimam que há mais de 80 milhões de pessoas deslocadas globalmente devido a guerras e perseguições.
A intervenção de Organizações Não-Governamentais (ONGs): Algumas ONGs estão trabalhando para ajudar a desmantelar as redes de apoio aos terroristas, promovendo anistia e reabilitação para ex-combatentes, além de programas de desradicalização.
A influência do cinema e da mídia: Filmes e séries de TV têm explorado a temática do terrorismo, muitas vezes apresentando narrativas que refletem estereótipos e complexidades do tema. Isso pode influenciar a percepção pública e as opiniões sobre as organizações terroristas.
O mesmo inimigo, diferentes lentes: A forma como diferentes culturas e países percebem o terrorismo varia amplamente. Por exemplo, enquanto um ato pode ser visto como terrorismo em um país, em outro pode ser considerado uma luta de resistência.
Terrorismo Ambiental: Embora menos discutido, alguns grupos terroristas se envolvem em ações que visam destruir o meio ambiente como forma de protesto, como ataques a instalações de petróleo, desmatamento e poluição de rios, visando prejudicar os interesses de estados ou corporações.
Como prevenir?

Grupos como Hamas, Fatah, Irmandade Muçulmana, Hezbollah, Al-Qaeda, Talibã, Boko Haram e ISIS não apenas perpetuam ciclos de violência e instabilidade, mas também operam em um contexto global que exige uma abordagem integrada para enfrentar os desafios do radicalismo e do financiamento do terrorismo.
A compreensão das dinâmicas do terrorismo e de suas fontes de financiamento é essencial para o desenvolvimento de estratégias eficazes de combate a esse aspecto global. A luta contra essas organizações não requer apenas ações militares, mas também um comprometimento internacional em abordar as causas sociais, políticas e econômicas que alimentam o terrorismo. Nesse sentido, a cooperação entre países e a troca de informações são fundamentais para desmantelar as redes terroristas e prevenir novos ataques.
Grande avanços vem sendo conqiustados ao longo dos anos. Em 2006 a Assembléia Geral da ONU adotou por Estratégia Global Antiterrorismo. Esta estratégia tem quatro pilares: enfrentar as condições que podem promover o terrorismo, tomar medidas para prevenir e combater o terrorismo, expandir a capacidade dos Estados para tanto e a adoção de medidas para salvaguardar o respeito aos direitos humanos na luta contra o terrorismo.
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