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A TIRANIA NÃO SAI DE MODA

  • Foto do escritor: Maura Palumbo
    Maura Palumbo
  • 3 de mai. de 2024
  • 5 min de leitura

Um estudo da escalada do narcotráfico sul-americano.


Quando pensamos em tiranos uma lista se forma, desde a Grécia Antiga e Império Romano até governantes contemporâneos como: Hitler, Stalin, Mussolini, Mao Tsé Tung, Idi Amin, Muamar Kadáfi, Saddam Hussein, entre outros.

 

 O que caracteriza a tirania?

 

  1. ameaças às liberdades individuais e coletivas, principalmente no controle total dos meios de comunicação;

  2. construção de “verdades” e de “bodes expiatórios”, com a perseguição de opositores ou de inimigos fabricados;

  3. abuso do poder e das leis em proveito próprio e do seu grupo;

  4. opressão ao povo pelo medo e terror;

  5. a chegada e a permanência do líder, ao poder, de forma ilegítima.

 

Mas a tirania existe somente na política?

 

A resposta é não! A tirania não escolhe linha de governo nem de poder para se instalar e se desenvolver. Porém, todos os tiranos têm aspectos padronizados, como se seguissem a mesma cartilha sombria. O reconhecimento e a projeção desses indivíduos consistem na melhor tática para a execução do mal.


PABLO ESCOBAR

Pablo Escobar - Cartel de Medelim

Foto: Pablo Escobar (à direita) e seu primo Gustavo Gaviria, chefe financeiro do cartel


Um exemplar da história recente é Pablo Emilio Escobar Gavíria, o megatraficante colombiano que submeteu a Colômbia a um massacre alarmante durante a década de 1980. O genocídio promovido pelo El pátron e pela sua temida organização criminosa chamada: Cartel de Medelin, desintegrou a ordem de um país que já vivia no lamaçal da corrupção e da miséria.

 

Os narcotraficantes são poderosos em dinheiro e armamentos. Pablo Escobar manipulou e exterminou políticos, militares, jornalistas, magistrados e civis. Bastava contrariá-lo para fazer parte da sua cadernetinha macabra e da sua estratégia inescapável: “prata o plomo” (dinheiro ou chumbo), ou seja, o infeliz tinha duas opções: ou era subornado ou morria.

 

A glamourização do herói Escobar teve um preço alto e o povo foi testemunha da trajetória criminosa, que teve início com pequenos golpes, evoluindo para roubo de carros e bancos e se consagrando no controle do tráfico de cocaína, atingindo o domínio de 80% da produção mundial.

 

Toda população inculta e faminta produz ídolos tiranos que chegam ao comando de maneira sinistra. E foi assim que a frágil Colômbia reverenciava o Robin Hood latino, que distribuía esmola e diversão e que prometia acabar com a pobreza, caso assumisse o governo nacional.

 

Escobar se definia como um esquerdista e admirava a doutrina comunista. Não hesitou em ingressar na política para garantir sua impunidade e principalmente impedir a extradição de qualquer cidadão colombiano para os Estados Unidos.


Pablo Escobar - Narcotráfego - Cartel de Medelin

Foto: Pablo Escobar no Congresso da Colômbia Bogotá, 1982

 

Com uma narrativa liberal e de igualdade popular, o “capo dos capos” foi eleito membro suplente da Câmara dos Representantes, nas eleições parlamentares colombianas de 1982. Naquele momento, embora se afirmasse que ele fosse mafioso, não se questionava nem se havia comprovado absolutamente nada.

 

Na verdade, havia uma conivência com o narcotráfico, não só do povo carente que se contentava com projetos sociais, mas também daqueles que se beneficiavam com empregos, negócios e com o financiamento de campanhas políticas. Escobar foi um dos adeptos à doutrina da picanha.



Pablo Escobar - Narcotráfego - Cartel de Medelin

Foto: Carlos Lehder - Integrante do Cartel de Medelim responsável

por colocar a cocaina dentro dos Estados Unidos.


A impunidade promovia execuções de forma sistemática. Mais de cinco mil vidas foram interrompidas pela ação bestial do narcotráfico colombiano. Estima-se que o Cartel de Medellín chegou a faturar mais de 30 bilhões de dólares por ano, com o tráfico de cocaína. Só para os Estados Unidos ele chegou a traficar 15 toneladas da droga por dia.

 

Apesar de todo o empenho, as ambições políticas de Pablo Escobar foram frustradas, quando políticos colombianos denunciaram as duas breves prisões do criminoso. A primeira, por furto de carro em 1974 e segunda, por portar 26 quilos de pasta de cocaína, em 1976. Ambos os casos foram arquivados e o meliante foi liberado.

 

Por pior que a Colômbia estivesse, havia cidadãos que fizeram a diferença e não permitiram que um bandido chegasse ao poder, porém tiveram que enfrentar a fúria do narcotraficante.

 

O Estado foi totalmente omisso durante muito tempo e Pablo Escobar se tornou incontrolável. A partir daí, decretou guerra contra sua pátria e o narcoterrorismo transformou o país num campo de batalha sangrento.

 

Os Estados Unidos pressionavam o governo colombiano deter o Cartel de Medelin e investiu em ajuda militar e tecnológica. Mas, Pablo era o inimigo invencível que dispunha de muito dinheiro e um exército de sicários. A retaliação duraria uma década.


Pablo Escobar - Narcotráfego - Cartel de Medelin

Foto: Atentado contra o Ministro da Justiça Rodrigo Lara Bonilla, em 1984, Bogotá.

O político tomou decisões divergentes do interesse dos narcotraficantes e foi assassinado.


No início o alvo era políticos e magistrados, mas rapidamente volta-se contra todos que desafiavam sua autoridade, principalmente a imprensa. O terror habitava no cotidiano e consequentemente o povo era refém dessa barbárie inacreditável. Sequestros, torturas e atentados com bombas eram frequentes, em prédios oficiais, lugares públicos e até num avião da Avianca, em 1989, não deixando sobreviventes. Sem contar os desafetos pessoais de Escobar que acabaram em vala comum, incluindo membros rivais e de seu próprio cartel. 

 

Após anos de delinquência e brutalidade, em 1991, Escobar se entregou às autoridades colombianas, sob a condição de cumprir pena no país, em vez de ser extraditado para os Estados Unidos.


Pablo Escobar - Narcotráfego - Cartel de Medelin

Foto: La Catedral - A elegante prisão de Pablo Escobar em Medelin


A negociação previa, também, que ele construísse sua própria prisão, que ficou conhecida como La Catedral. Era um hotel de luxo, com todas as regalias possíveis, nas colinas de Medellín e não uma prisão comum administrada pelo governo.

 

O Estado encurralado e em nome da população castigada, se rendeu ao malfeitor e de joelhos acatou suas reivindicações.

 

Em 1992, além de vir à tona, o tipo de instalações “carcerárias”, onde Escobar e seus associados cumpriam “pena”, as autoridades colombianas descobriram que El pátron continuava a gerir os seus negócios de drogas de dentro da La Catedral e que havia cometido vários homicídios dentro das suas paredes.

 

O governo colombiano decidiu transferir Escobar para uma prisão mais convencional. Antecipando a mudança, Escobar fugiu da La Catedral, desencadeando uma caçada humana histórica, que culminaria com a sua morte em 1993.


Pablo Escobar - Narcotráfego - Cartel de Medelin

Foto: Perícia do assassinato de Pablo Escobar


A operação para localizar e capturar Escobar ficou conhecida como “Operação Gabriel” e envolveu milhares de policiais e militares. No dia de sua morte, Escobar foi morto em um tiroteio com policiais colombianos que se aproximavam de sua localização. A sua morte marcou o fim de uma longa e violenta carreira, durante a qual Escobar se tornou um dos criminosos mais ricos e poderosos da história.

 

Há uma razão para que tiranos ainda existam. A morte de cada um deles, não recupera a devastação causada nem o fim da poderosa ideologia assassina que pregam. Seus discípulos são recicláveis e se tornam letais com o tempo.

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